Montag, 12. März 2012

Lúcia Gomes é uma artista crítica e politico-social dos Belem Brasilia


A obra de arte é o ato, fugaz, temporal, imaterial que se transforma em matéria. Esse ato tem o poder de refletir a personalidade social e política da artista, seu engajamento num mundo que, por vezes, pode ser perverso e hostil. Em alguns artistas esse reflexo, no seu ato de criação, é mais perceptível de que em outros; talvez porque haja, nesses artistas, o desejo de se fazer perceber enquanto sujeito do ato de criação. Então, de maneira peremptória, sua produção artística acaba contendo esse dispositivo de autoreflexão, que marca, que chama atenção, para a sua forma de estar-no-mundo. Lúcia Gomes pertence a essa família de artistas e sua arte possui esse dispositivo reflexivo do seu estar-no-mundo.

Para Lúcia a arte é um ato político, um grito que sai de uma alma que sofre sua condição de estar-no-mundo, da mulher, da opressão do ser humano, da vítima da violência, em síntese, do estar e experimentar o mundo. Sua arte torna-se causa. A causa do homem justo, do homem ético.

Sua arte procura o outro, aquele a quem a artista passa a dividir seu sentir-o-mundo, dividir o seu pesar, o seu sofrer, mas também a sua alegria, o seu amor, o seu estar-no-mundo. Aqui a arte toma uma forma que se completa somente quando esta forma toca o outro, então sua arte ganha sentido, vivo no e para o outro.

Encontraremos dois momentos nesta exposição; o primeiro momento, do qual registrei o seu ato político, que precisa da arte, melhor, que toma a forma artística para se materializar; e o segundo momento, que no seu estar no mundo que não lhe parece seu, transforma a estética de sua arte. Lúcia ganha uma nova forma de estabelecer contato com o mundo; e sua produção artística ganha novo contorno, novas formas de estabelecer contato com o outro.

No entanto, é importante observar que, mesmo diante de um contexto social e estético diferenciado, novo, a raiz de sua arte permanece, como se a-temporal fosse. Ou seja, ainda que a forma, a apresentação, o contexto se altere; o vigor político, social e crítico permanece. Sua forma de estar no mundo, de tocá-lo, vive como a Lúcia de O Beijo – Fim do Holocausto, Sanitário ou Santuário? do STOP, do WWW, a Lúcia da luta política e social que a mantém viva. Note ai que, se a linguagem visual se altera, agora permeada por um novo ambiente, sem o qual com certeza não existiria, Lúcia carrega consigo o passado e o presente, sua história, sua arte desdobra-se numa visão do mundo relacional entre uma estética performática europeia, com pitadas germânicas, e um estar-no-mundo amazônico. Esse estar no mundo implica a uma visão particular, que mesmo estando além, indica uma determinada orientação ideológica da artista, crítica e reivindicadora das questões sociais e políticas de sua região natal – A Amazônia.

Essa orientação ideológica, que permeia o estar-no-mundo da artista e marca sua produção artística desde seus primórdios, é caracterizada por um juízo específico que, de forma implícita ou explícita está presente no conjunto de sua obra.

Ainda que sua poética, sua forma de contar uma história, de reivindicar, de criticar, de gritar, de criar um mundo, se altere, continuamos a detectar o gérmen político-social que caracteriza seu estar-no-mundo, seu lugar de pertencimento e seu lugar de fala.

BU! Os Balões brancos! Estes, que simbolizam em nossa cultura a paz, para Lúcia também é o grito de dor que ecoa, talvez numa tentativa de subir aos céus a procura de um deus. É o desespero em busca de um amparo. Por outro lado, os balões que aqui não sobem, e espalham-se pelo chão, mostram que o deus aqui está, na terra, que façamos daqui o Paraíso esperado no além! Este ato, registrado nesse conjunto de imagens que invocam a todos àqueles que aqui estão e que a este mundo concerne, o grito, a crença de que somente juntos, invocando a paz, o amor, a partilha, a alegria, a possibilidade do eterno no ato, evocando aos céus um mundo “autrement”. No ato está presente muitas L. e o desejo perene de que mais L. não existam, e de que todas, como os balões possam ser libertadas. Possam vagar e fluir no seio da liberdade incondicional do homem, no seio da felicidade, da paz e do amor! STOP com seus doces pirulitos faz alusão a doçura da infância, esta revestida de toda a doçura, tem o cerne duro e árido como um prego, sim, um prego que enterrado provoca a dor, que não pode ser mastigado, engolido, assimilado em sua frieza e dureza, ele machuca. É como se a doçura aparente de uma criança pudesse encobrir a sua dor e a violência a que está exposta. PIPAZ segue o mesmo percurso de desejo, de paz, de felicidade pertinente ao desejável universo infantil. Envolta também no universo infantil, como BU, talvez o universo desejável de uma infância terna e feliz, livre da violência e da dor!

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